sexta-feira, 17 de dezembro de 2010

SAUDADE

SAUDADE

As luzes da cidade já se apagaram e restam apenas focos multicoloridos dos pingos de chuva que tremulam ao vento no tocar a vidraça embaçada pelo frio lá fora.

As estrelas parecem ter adormecido embaladas pelas nuvens cinzentas que encobrem o céu naquela noite nebulosa.

Eu aqui, prostrado, diante de um retrato já envelhecido pelo tempo enquanto lembranças se renovam como se o tempo jamais tivesse passado.

Por que ainda, depois de tanto tempo consigo ver brilho naquele olhar inerte? Naquele olhar que está comigo agora?

Passaram-se dez anos desde que ela partiu. Foi morar em outro espaço, brincar com os anjos, fazer poesia com a lua. Achava que bens não possuía, então doou todos os órgãos que podia e a mim em testamento deixou as córneas e a saudade, pois a ela pertencia meu mais puro sentimento.

Antes eu não a via. Só podia enxergar a sua alma, sentir seu sorriso e o pulsar do seu coração.

Ela prometeu-me colocar mil estrelas em meus olhos e hoje podendo fitá-la sem nunca mais poder tocá-la, pois vive na amplidão, enxergo as gotas de chuva, mas com o coração em eterna penumbra, na mais dolorosa e completa solidão.

Regina Xavier

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